DEUS CASTIGA? (Does God punish?)

 
 
PENAS E GOZOS

  
     A imagem da expulsão de Adão e Eva do paraíso nos leva a várias reflexões. Ao expulsá-los o Senhor colocou querubins e uma espada flamejante no acesso ao paraíso prevenindo que ambos  jamais  retornassem, além das penalidades impostas por terem comido o fruto da árvore do conhecimento do  bem e do mal (Gênesis 2:17).
 
     Ouvimos desde a infância as palavras castigo e punição. As associamos, por experiência, ao sofrimento e a dor. Por extensão ligamos àquele que nos castiga a crueldade e a impiedade. 
 
     No dicionário Aurélio de 1999 encontramos as correspondentes definições:
 
     Castigar: 1. infligir castigo a; 2. Repreender, advertir, admoestar; 3. Ferir, contundir, magoar; 4. Causar sofrimento a; mortificar; 5. Corrigir, emendar; 6. Apurar, aperfeiçoar; 7. Aplicar castigo a si mesmo, penitenciar-se.

      Punir: 1. infligir pena a, dar castigo a, castigar; 2. Servir de castigo a; 3. Aplicar correção a; reprimir, cobrir; 4. Submeter a pena; castigar; 5. Infligir pena ou castigo a si próprio.
     
    Apreciando os conceitos verificamos que castigar ou punir são praticamente sinônimos, não havendo diferença na aplicação dos termos.
 
     No entanto as considerações não param por aí. Uma ideia e um sentimento nos fustiga a mente e o coração, talvez embalados pelo nosso orgulho e nutridos por séculos de condicionamento histórico, que surgem como arquétipos em nosso inconsciente. O Deus do Velho Testamento nos  foi apresentado como um ser passível de irar-se e vingar-se daqueles que lhe afrontassem ou desobedecessem as leis, sendo magnânimo com aqueles que agissem de modo contrario. A partir do Novo Testamento a ideia a respeito de Deus muda completamente com os ensinos de Jesus que nos apresenta Deus como Pai amoroso, generoso, bondoso, zeloso com todos os seus filhos sem exceção, porém justo. Essa ideia fica ainda mais evidente no Evangelho de João no capítulo 04, versículos 7 e 8. Desse modo repugna-nos a ideia de um Deus que pune, que castiga e impõem sofrimentos e dores a seus filhos, por nos parecer incompatível com a Lei de Justiça, Amor e Caridade.

     Ao consultar as obras básicas da codificação, o Pentateuco Kardequiano, encontraremos várias referências aos termos castigo e punição. Em "O Livros dos Espíritos" a palavra punição ou correlatas é citada 35 vezes e castigo 30 vezes. No Evangelho Segundo o Espiritismo temos 34  e 21 vezes respectivamente. Em "O Céu e o Inferno" punição consta 89 vezes e castigo 84 vezes.
 
     Poderemos então indagar sob que aspecto A Terceira Revelação acrescenta ou modifica as ideias que temos arraigadas em nós sobre esse tema. A Doutrina Espírita não nega a realidade, muito ao contrário, confirma-a e lança luzes clareando-nos o entendimento a cerca das leis divinas. Deus tendo criado suas leis sábias e eternas obviamente traçou os limites. Verifica-se isso na passagem bíblica da proibição de se comer da árvore do conhecimento, um símbolo. A punição ou castigo desse modo resultam da transgressão desses limites e portanto da violação das suas Leis. É o que nos evidencia a questão 964 de "O Livro dos Espíritos":
 
     "Mas, será necessário que Deus atente em cada um dos nossos atos, para nos recompensar ou punir? Esses atos não são, na sua maioria, insignificantes para Ele?
 
     “Deus tem Suas leis a regerem todas as vossas ações. Se as violais, vossa é a culpa. Indubitavelmente, quando um homem comete um excesso qualquer, Deus não profere contra ele um julgamento, dizendo-lhe, por exemplo: Foste guloso, vou punir-te. Ele traçou um limite; as enfermidades e muitas vezes a morte são a consequência dos excessos. Eis aí a punição; é o resultado da infração da lei. Assim em tudo.” (Destaques nossos).
 
     E Kardec complementa:

     Todas as nossas ações estão submetidas às leis de Deus. Nenhuma há, por mais insignificante que nos pareça, que não possa ser uma violação daquelas leis. Se sofremos as consequências dessa violação, só nos devemos queixar de nós mesmos, que desse modo nos fazemos os causadores da nossa felicidade, ou da nossa infelicidade futuras. (...). (Destaques nossos).
 
    Os conceitos do dicionário corroboram as ideias de progresso e evolução concordantes com os ensinos dos Espíritos Superiores como se constata no seguinte comentário de Allan Kardec:

    "(...) Deus, porém, quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho reto. Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis consequências, mais ou menos deploráveis. Daí se segue que, nas pequenas coisas, como nas grandes, o homem é sempre punido por aquilo em que pecou. os sofrimentos que decorrem do pecado são-lhe uma advertência de que procedeu mal.(...)." (O Evangelho Segundo O Espiritismo, Capitulo V, item 5).
 
     Concluiremos com as seguintes palavras de Paulo - Apóstolo grafadas na resposta à questão 1.009 de "O Livro dos Espíritos":
 
     “Quem é, com efeito, o culpado? É aquele que, por um desvio, por um falso movimento da alma, se afasta do objetivo da criação, que consiste no culto harmonioso do belo, do bem, idealizados pelo arquétipo humano, pelo Homem-Deus, por Jesus-Cristo.
     “Que é o castigo? A consequência natural, derivada desse falso movimento; uma certa soma de dores necessárias a desgostá-lo da sua deformidade, pela experimentação do sofrimento. O castigo é o aguilhão que estimula a alma, pela amargura, a se dobrar sobre si mesma e a buscar o porto de salvação. O castigo só tem por fim a reabilitação, a redenção. Querê-lo eterno, por uma falta não eterna, é negar-lhe toda a razão de ser."  (Destaques nossos).
 
 
 
VERBETE - PUNIÇÃO
 
O Livro dos Espíritos

Questões: 231, 289, 292, 331, 372, 399, 578-a, 633, 639, 663, 709, 713, 764, 796, 847, 855, 871, 904, 921, 937, 939, 952, 964, 973, 984, 1009.


O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Cap. III, item 14;  Cap. IV, item 26; Cap V, itens 5, 6, 11, 12, 19 e 26; Cap VII, Item 11; Cap. VIII, itens 09, 16 e 21; Cap. X, itens 6 e 17; Cap. XII, item 5; Cap. XIII, itens 3 e 6; Cap. XIV, item 3; Cap XVIII, item 10; Cap XXVII, item 21; Cap XXVIII, itens 3 (subitem IV), 30, 34 e 82.


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